segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Ministro inexistente

"Diz-se que Alípio Ribeiro é muito amigo de Alberto Costa e que essa terá sido um das razões por que foi nomeado director nacional da Polícia Judiciária. Mas Alberto Costa é ainda mais amigo de Alípio Ribeiro. A prova está no silêncio olímpico com que assistiu às cenas dos últimos capítulos na PJ e à forma como, para poupar o ex-director nacional, se diminuiu um pouco mais a si mesmo aos olhos do país.

O ex-director veio defender publicamente a vantagem de a instituição depender do Ministério da Administração Interna e não da Justiça, contra o que diz a lei orgânica da PJ aprovada há menos de um mês. Pode até ter razão. Mas, perante tal desacerto entre Governo e director, o ministro da Justiça só tinha uma saída: obviamente, demiti-lo.

Em vez disso, calou-se. E quem veio dizer o que ele devia ter dito foi a associação sindical da Judiciária, a qual imediatamente reclamou o afastamento do director. Tiro e queda: no dia seguinte estava a demissão consumada e um sucessor indicado - por sinal, o primeiro polícia de carreira a assumir a direcção nacional da PJ em toda a sua existência, uma reivindicação antiga entre os funcionários.

Surpreendida pela facilidade com que viu as suas pretensões satisfeitas, a associação congratulou-se. O ministro, esse só abriu a boca um dia depois para dizer que o "incidente" fora algo irrelevante. Ora, num país onde aumenta a criminalidade, mas diminuem drasticamente as detenções feitas pela PJ e em que mais de metade dos inquéritos por corrupção são arquivados porque falta matéria de acusação, a situação da Judiciária interessa-nos. Pena que Alberto Costa desvalorize o que por lá se passa. E que assuma o papel de ministro inexistente, dando ideia de que quem tutela de facto a PJ é a sua associação sindical".

Fernando Madrinha, in Expresso, 10 de Maio de 2008

1 comentário:

Anónimo disse...

De facto, lá diz o povo, galinheiro onde não há galo, mandam as galinhas...
Ou seja, parece que tudo se resume a um simples problema de liderança...
Eventualmente a começar no próprio Poder Político...