Numa entrevista dada por Alípio Ribeiro à Rádio Renascença sobram elogios ao ministro e a garantia de que nunca sofreu qualquer tipo de pressão do Governo. É preciso afastarmos essa ideia de governamentalização da Judiciária, da Justiça, apela, contra os fantasmas que essa retórica traz à memória colectiva.
Alípio Ribeiro deu ontem uma última entrevista antes de abandonar formalmente a direcção nacional da Polícia Judiciária, garantindo que a decisão de apresentar a demissão foi formalizada ao ministro da Justiça na segunda-feira (dia em que as suas declarações ao Diário Económico, defendendo a mudança de tutela da instituição deram polémica) - mas acrescentando que a decisão estava no seu espírito há cerca de um mês.
Cansaço é a palavra que Alípio Ribeiro mais repete durante a entrevista à Rádio Renascença. Cansaço da exposição do cargo, sobretudo, mas também da demora da aprovação da lei orgânica da PJ - que lamenta, aliás, deixar feita sem a respectiva regulamentação. Esta é, no entanto, a única queixa (ainda assim, indirecta) que faz do poder político - ao caso, da maioria socialista no Parlamento.
Do ainda director nacional sobram, isso sim, elogios ao ministro e a garantia de que nunca sofreu qualquer tipo de pressão do Governo. É preciso afastarmos essa ideia de governamentalização da Judiciária, da Justiça, apela, contra os fantasmas que essa retórica traz à memória colectiva.
Também para Almeida Rodrigues, que a partir de hoje o substitui, ficam apenas elogios. Alípio Ribeiro assegura que falou com Alberto Costa sobre a sua sucessão e subscreve a opção por um homem da casa. Vejo como uma decisão perfeitamente natural, que será o caminho do futuro, garante, apontando Almeida Rodrigues como um homem de consenso, diálogo, culto, que conhece muito bem a polícia.
Há, claro, outras lamentações nos 30 minutos da entrevista. Desde um fui bastante castigado, para se referir à entrevista em que admitiu erros na condução do caso Maddie, passando pela incompreensão de que só pretendia pensar em voz alta sobre as soluções para os problemas da PJ, até à acusação de que há demasiadas fontes anónimas sobre a vida interna da Judiciária.
Quanto à própria força, Alípio Ribeiro diz deixar uma polícia mais aberta e cooperante, esperando que se torne menos uma polícia de casos e mais uma polícia de fenómenos - que saiba conjugar a sua actividade com as outras polícias.
Muito boa sorte e sucessos profissionais Dr. Alípio Ribeiro, são os votos sinceros da ASFIC/PJ.
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