segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ainda o caso "Maddie"....

«O chamado 'caso Maddie' foi um desastre. Por mim, sempre me indignei com a ligeireza com que certos polícias, ex-polícias e jornalistas amigos de polícias insinuaram que os pais da crianças eram os responsáveis pela sua morte. Mesmo sem saberem se, de facto, havia morte.

Escrevi-o, disse-o na televisão e mantenho que, caso se provasse que o casal era culpado, eu perderia completamente a confiança na condição humana.

Pois bem, felizmente não perdi essa confiança, mas passei, infelizmente, a desconfiar muito mais dos nossos métodos de investigação.

O que me é dado entender é que a nossa polícia não investiga: faz conjecturas. O desplante com que um ex-polícia dizia qualquer coisa como 'não foi provado o crime, mas também não foi provado o rapto', mostra como certas pessoas na PJ se sentem mais magistrados, mesmo juízes, do que investigadores. E, para que não se pense que há corporativismo, o mesmo digo - sem qualquer hesitação - de certos jornalistas, para quem a verdade é o que lhe diz uma fonte da polícia, ainda que o bom senso contrarie a lógica dessa pretensa verdade.

A nossa polícia de investigação tinha os olhos do mundo sobre ela. O que fez foi desastroso. Transformou em arguido - com a arrogância própria de quem sabe que arguido é um termo esquivo - os pais de Maddie e, simultaneamente, enviou sub-repticiamente para a opinião pública sinais de uma conjectura que foram dando como se estivesse provada: que a menina tinha morrido e que os pais tinham ocultado o cadáver.

Poucos jornais (orgulho-me de o Expresso ter sido um deles) escaparam desta lógica. E, passados estes 14 meses, a mesma gente que alimentou um mito, acusou sem provas um casal a quem a filha lhe desaparecera e deu do nosso país uma imagem terceiro-mundista, não pede desculpa.

Ao contrário, desculpa-se.

Desculpa-se com poderes ocultos no processo, com o Governo inglês, com o que mais vier. É gente mesquinha, pequena, sem qualquer grandeza.

Alguns jornais chegam ao ponto de parecer ter esperança que o casal seja acusado de "exposição ao abandono", como se quem sopra essa hipótese não soubesse que jamais se poderá provar o dolo, ou seja a intenção, por parte do casal em abandonar a filha, requisito indispensável para tal acusação.

Enfim, um desastre total, o 'caso Maddie', apesar de toda a gente conhecer os riscos desta investigação. E, o pior, é que ninguém será responsabilizado por esta enormidade».

Henrique Monteiro, in Jornal EXPRESSO, 5 de Julho de 2008.

7 comentários:

Anónimo disse...

o maior cego é aquele que não quer vêr.
diz-me quem te paga, dir-te-ei porque escreves.

Anónimo disse...

Será que os jornalistas ficaram com a inteligência só para eles??É que eles são especialistas em todas as àreas!!!!!!!!!

Anónimo disse...

H.Monteiro=Expresso=Balsemão=Bilderberg

Anónimo disse...

m jornalista deve ser integro, sérío e honesto. Deve procurar a verdade nem que para isso vá para o terreno e faça perguntas, confirme os factos, analise as informações e tire conclusões.Conclusões do que deve publicar ou não. Tudo o que sajam meras ilações deverão ficar na gaveta a aguardar que um dia deixem de o ser. Um bom jornalista não deve noticiar de cabeça quente, nem deve ser covarde ao ponto de criticar o que só por si é mais do que criticavel. Bater no ceguinho é muito fácil para um jornalista que têm um jornal à sua disposição. Por isso eu não confio no jornalismo Português, acho-o medíocre, mal intencionado, oportunista e com pouco sentido ético.

Cláudia disse...

Olá a todos.
Desconhecia este sítio e fico contente por tê-lo encontrado. Sou um cidadã comum, de 29 anos, de Viseu e nada tenho a ver com a PJ. Não tenho família nem pessoas próximas em nenhum dos ramos da nossa polícia. Mas também eu fui tocada por este caso e pela coragem e coluna vertebral demonstrada pelo Dr. Gonçalo Amaral. Esse é, aliás, o único aspecto com o qual não concordo no texto. O Dr. Gonçalo Amaral não ficou sozinho. Há muitos, muitos meses que luto contra a maré na blogosfera. Primeiro nos fóruns de alguns jornais ingleses, quando estes ainda permitiam a liberdade de expressão. Quando isso deixou de ser possível, em blogs. Este, cuja morada aqui vos deixo, é para todos vós. Foi para isso que foi criado. Para que saibam que não estão sós.
Peço desculpa por ser em língua inglesa, mas como devem compreender, se assim não fosse, perderia a razão de ser. Obrigada a todos vós por tornarem o nosso país mais seguro todos os dias, por arriscarem a vossa vida pela de quem não conhecem e, agora, até mesmo por se arriscarem a ver a vossa vida privada devassada e mentiras atrozes escritas a vosso respeito. Bem hajam.

P:S: Este editorial por parte do Expresso é vergonhoso. O senhor, por falta de melhor termo, que o assinou, se duvida dos poderes ocultos neste caso, deveria informar-se acerca da perseguição, insultos e ameaças de processos a que muitos (eu incluída) somos sujeitos apenas por termos a audácia de questionar as opções parentais dos senhores McCann. No entanto, uns são mais fáceis de calar que outros. E outros ainda parecem ter um preço. Só isso explica certas coisas.

http://proud-of-the-pj.blogspot.com/

Anónimo disse...

Este "senhor jornalista" como muitos outros deviam era voltar para a escola e aprender a fazer o seu trabalho. Desde o início que toda a cobertura deste caso foi vergonhosa. Quero ver se agora que o segredo de justiça é levantado os jornalistas - o Expresso incluido - têm a coragem de fazer o que antigamente se chamava jornalismo investigativo (termo em que a maioria parece nunca ter ouvido falar) e desvendar este caso. Ao contrário das policias que estão mais "limitadas" os jornalistas podem muito mais facilmente apanhar um avião e dar um salto "aqui" e "ali" para saber mais sobre esta situação. Porque quanto a mim, há muito para se saber.

Ah, e já agora, nunca mais na vida compro o Expresso. É que me recuso a comprar jornais cujos editores têm este tipo de atitudes que eu considero deploráveis para o meu país, para as minhas instituições. Ainda para mais quando o segredo de justiça ainda não foi levantado e ainda há muito para saber sobre esta situação.

O Expresso cá em casa? Só se vier a forrar algum caixote ou a embrulhar algum artigo que compre.

Anónimo disse...

Não resisto a comentar o o texto de Henrique Monteiro. Também sou jornalista (free-lancer) mas é claro, não sou directora, não tenho um jornal para escrever o que me apetece. é curioso verificar como certo tipo de gente faz certo tipo de comentários. Como se associam, como se entendem. Veja-se, repito o Miguel Sousa tavares. Veja-se como o poder de distorcer as palavras, os factos, os raciocínios e os conceitos é violento e insultuoso. Veja-se até onde pode
ir o descaramento e a violência de certas declarações tipo «a nossa polícia não investiga, faz conjecturas». Acusa a polícia - «mesquinha, pequena, sem qualquer grandeza» - de ter «alimentado um mito». Não há maior insulto, maior injustiça, maior agressividade.
Desconhece que a verdade aos olhos de qualquer pessoa que tenha dois dedos de testa e elemntar sentido de justiça é olhar para a evidência dos factos, ver a sequência dos acontecimentos,observar as pessoas, as palavras, os resultados de investigações concretas (os cães que deetctam odor de cadáver não são invenção, e por aí fora, num exercicio de bom senso e de conjunto.
Este jornalista-director é cego e imbecil. Será que alguém lhe paga para dizer estas coisas ou será delírio da minha parte? O que é indubitável é que o poder se encosta ao poder, encobrindo o que for possível.
Ana